sexta-feira, 30 de março de 2012

A MÃO DO BANQUEIRO




Inquieto, preocupado, angustiado por ver tantas mãos estendidas pela rua, entrei no banco afim de conferir se o demónio do banqueiro  me tinha ido aos bolsos novamente.

Foto: Alexandre Afonso Gonçalves

Esperei a minha vez, de mãos nas algibeiras, tranquilo, quando sinto uma mão acariciando-me a nuca. Percorre-me como um calafrio. Será do ar condicionado, ou cresceu-me uma terceira mão? Surpreendi-me então a contar as mãos,...pelos dedos; confirmado: duas mãos.

A meu lado a minha mulher aguardava comigo, impacientando-se com a demora, uma mão enfiada no bolso da frente, outra no detrás das calças. Foi quando me dei conta que a  mão que ela tinha de trás...era minha.
Voltei a contar, mas antes mesmo de concluir a difícil operação pensei: "não será melhor descontar?", na dúvida... Mexendo os dedos (para o cálculo mental) no bolso do traseiro dela, apercebo-me que a mão no bolso da frente das calças dela....talvez fosse minha também.

Inquietei-me deveras, sabendo que não lhe podia perguntar nada; é tão má com os números. Já era tempo de fazer o ponto da situação: se ela tinha uma mão na minha nuca, e outra no meu bolso detrás, perfazia duas mãos da parte dela. Por mim, atendendo que uma mão lhe escoltava o bolso traseiro, outra no frontal.... mas então, a outra, no meu bolso da frente?

Quando entro num banco sinto-me invariavelmente enganado com os números.

Desconfiámos os dois ao mesmo tempo; talvez... não fosse uma mão. Decidimos ir para casa, em simultâneo, para conferir as contas.

E saímos do banco...de mãos dadas.

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