sexta-feira, 6 de abril de 2012

Opus Dei vs Octopus Dei

O respeito pela diversidade religiosa não me impede de questionar ou duvidar, nem me inibe o receio dos epítetos de quem confunda liberdade de expressão com blasfêmia.


A Opus Dei foi fundada por Monsenhor JoséMaria Escrivá Balaguer, que em 1928 teve "uma visão".  Empenhado em concretizar a sua "visão", é nos meios estudantis e intelectuais que promove a sua acção e começa a captar membros para a organização. Aconselha os seguidores a não divulgarem a respectiva afiliação "pois isso atrai os inimigos". Funda escolas e universidades, incutindo nos estudantes a máxima fidelidade à "causa", e aos poucos consegue que seus elementos actuem na sombra, desde altos dignitários políticos, controle de organizações financeiras, etc, influenciando secretamente toda a sociedade. Conta actualmente com mais de 90 000 membros espalhados pelos cinco continentes. O modus operandi perpetuou-se depois da sua morte, em 26 de Julho 1975.
José Maria Escrivá de Balaguer foi canonizado em 2002, no processo mais rápido de sempre.

A história passa-se em 1982. Nesse ano arcebispo Paul Marcinkus protagonizou o maior escândalo financeiro da história do Vaticano, quando foi descoberto um rombo de cerca de 1.5 billiões de US $ no banco Ambrosiano, do qual o Vaticano era o maior accionista, através do Instituto das Obras Religiosas, o chamado "Banco do Vaticano". A Santa Sé desembolsou então mais de cem milhões de dólares para ressarcir os clientes do Ambrosiano, confessando implicitamente a sua responsabilidade na falência. Em Julho 1982 o estado italiano declara o Ambrosiano falido. Nesta sequência ocorre uma súbita transferência de 1 bilião de dólares para o Instituto das Obras Religiosas e em  Agosto o Banco Ambrosiano é substituído pelo "Nuovo Banco Ambrosiano". Donde veio o salvador Bilião de dólares? Da Opus Dei! Em troca de quê? Da constituição da Opus Dei em Prelazia Pessoal que ocorreu em 28 de Novembro, através da Constituição Apostólica Ut Sit; algo absolutamente único no seio da Igreja.


A Santidade passa por caminhos desconhecidos para o comum dos mortais, mas a Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei fornece o ideário ao leigo: percorrendo os 999 versículos que compõem o "caminho" livro da autoria do fundador, encontram-se pérolas no matagal: " Não te esqueças que és... o caixote do lixo...."  ou ainda no mesmo capítulo592: "Humilha-te; não sabes que és o caixote do lixo?"  Edificante! Ora a Igreja Católica nos ensina que o homem foi feito á imagem de Deus, e que é o Seu reflexo. Segundo a Opus Dei, Deus seria então um Grande Caixote de Lixo, ou será o "caminho" quem anda por vias ligeiramente heréticas?
Para o "supranumerário", nome que se dá ao leigo pertencente á "Obra", a questão não se coloca.

Seja para arranjar emprego, para casar ou mesmo para ver um filme ou comprar um livro ao supranumerário é (fortemente) preconizado pedir conselho junto a "cristãos competentes" e rezar ao "el padre" , ou seja a Monsenhor Escrivá Balaguer, fundador de Opus Dei. A Igreja Católica manteve, desde 1557, o famoso Index labrorum prohibitorum, uma lista de livros proíbidos, chegando-se a perseguir editores e livreiros que não o respeitassem até 1966. Embora já não exista esta censura pela Igreja, a Opus Dei mantém e actualiza o respectivo Index. Assim, quem dos seus membros quiser ver um filme ou ler um livro, terá de perguntar primeiro ao seu "conselheiro espiritual".

A vivência dos membros da "Obra" é sui generis bastante para merecer uma breve descrição: para facilitar a via para a "santidade" do leigo, o conselheiro espiritual recebe as suas confidências intimas (inclusive as conjugais), visita-lhe a casa semanalmente, no máximo quinzenalmente, para verificar se está tudo arrumado, limpo, "santificado" como ele diz, e deverá sempre sublinhar defeitos, imperfeições ou pequenos nadas, sem nunca, mas mesmo nunca, o felicitar pelo esforço. Em verdade, o "director espiritual"  averigua o vestimentário do leigo, da esposa e dos filhos, a arrumação da casa, a educação dos filhos....Por sua vez os filhos deverão frequentar os clubes, retiros, escolas e outras instituições ligadas à Opus Dei; como bons soldadinhos, quando atingirem 18 anos poderão aderir oficialmente. A esposa deverá andar ligeiramente maquilhada constantemente com a alegria estampada no rosto, dando sempre a aparência de irradiar felicidade, mesmo que mortificada por dentro. Eu sei que parece exagero, mas estas são algumas das regras.

Cada membro da comunidade, atento às imperfeições do outro, deve informar o responsável do centro que por sua vez nomeia alguém para dar uma reprimenda ao faltoso, conduzindo a um clima de suspeição, delação e desconfiança insuportável. Naturalmente cada um é proibido de criar "amizades de confidências", pois as confidências ficam a cargo do director espiritual nomeado para o efeito. A Opus Dei tem como especialidade o laicado, mas na realidade este leigos são quase religiosos, pessoas submetidas a uma autoridade sacerdotal omnipresente, vivem num universo paralelo, e na absoluta repugnância do mundo real.

O modo de rezar também se encontra regulamentado: reza-se ao "pai", e a Deus em segundo lugar. Contrariamente ao que acontece na Igreja, aqui o pai a que se refere não é Deus, é ao pai fundador da ordem; o culto da personalidade elevado ao paroxismo. Cada membro da organização deverá conhecer melhor a biografia e os ensinamentos de Balaguer que os de Jesus Cristo.
Se  o fundador da Opus Dei era o "pai" até à sua canonização, em 2002, ficou promovido a "nosso pai" depois disso. A mãe do Monsenhor Balaguer é chamada de "avó", e a irmã é "tia". No mínimo, cada lar deve ter sempre uma fotografia do grande homem, e obras suas, nomeadamente o "caminho".

Naturalmente, quem não seguir as regras á risca é porque se encontra sob a influencia de satanás; aliás esta é a ameaça constantemente relembrada ao supranumerário.
Finalmente, a conformação insidiosa dos espíritos acaba aniquilando a espontaneidade, até à anulação de personalidade própria. Eis a "santidade" que a Opus Dei propõe aos seus fieis.

Nada disto importaria muito, não fosse a nefasta influencia desta sociedade secreta no seio da própria Igreja  e na sociedade civil.


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