domingo, 27 de maio de 2012

A Teoria do Biocentrismo

E se fosse a vida quem cria o universo, e consequentemente este não existisse sem a nossa consciência? Assim, em vez de assumir que a realidade precede e cria a vida, o Biocentrismo propõe exactamente o inverso.

À medida que nos desfazemos de preconceitos, a nossa percepção e relação com o mundo mudam drasticamente.  Vivíamos num disco mais ou menos plano no século XV até, coisa sem sentido, nos dizerem que afinal a terra é uma pedra redondinha. Do mesmo modo, as explicações da física tradicional sobre a génese do Universo confrontam-nos agora com as experiências e as descobertas no mundo da física quântica, renovando dúvidas e levantando novas incertezas; obrigam a mudanças de interpretação que colocam em causa a nossa própria representação da realidade.

Com o seu ensaio "Nova Teoria do Universo", o cientista Robert Lanza coloca-nos de repente perante perspectivas radicalmente diferentes:  limitações biológicas  nos impedem de compreender verdades mais profundas da nossa existência e do mundo que nos rodeia, bem como a nossa própria consciência cria a realidade.  A ideia coincide com as observações quânticas em que os resultados dependem da própria observação. Como escreveu Eugene Wigner, laureado com o prémio Nobel: "Não é possível formular as leis da teoria quântica de um modo absolutamente consistente sem referencia a uma consciência".  Em 2010, conjuntamente com Leonard Mlodinow, o Stephen Hawking colocou o problema nos seguintes termos: " Não há forma de retirar o observador -nós- da nossa percepção do mundo...na física clássica, o passado é assumido existir como uma série de acontecimentos. Mas de acordo com a física quântica, o passado, como o futuro, é indefinido e existe apenas como um espectro de possibilidades.

A teoria do Biocentrismo refere sete princípios:
1 A nossa percepção da realidade é um processo que envolve a consciência. Uma realidade "externa" se existisse, teria, por definição, que existir no espaço. Mas isto não tem qualquer significado porque espaço e tempo não são realidades absolutas, senão meras ferramentas do humano e cérebro animal.
2 As nossas percepções internas e externas estão inextricavelmente entrelaçadas. São diferentes lados de uma mesma moeda e não se podem divorciar uma da outra.
3 O comportamento das partículas sub-atómicas, de facto de todas as partículas e objectos, está inextricavelmente ligado à presença de um observador. Sem a presença consciente do observador, as partículas existem, no melhor dos casos, apenas no estado indeterminado de probabilidade de onda.
4 Sem consciência a matéria permanece num indeterminado estado de probabilidade. Qualquer universo que poderia ter precedido a consciência apenas existiu em estado de probabilidade.
5 A estrutura do universo só pode ser explicada através do Biocentrismo.O universo está sintonizado com a vida, o que faz sentido, porque a vida cria o universo e não o contrário. O universo é simplesmente o conjunto lógico espaço-temporal do Eu.
6 O tempo não tem real existência fora da percepção do sentido-animal. É o processo pelo qual perceptimos mudanças no universo.
7 O espaço, como o tempo, não é um objecto ou uma coisa. O espaço é uma outra forma de compreensão animal, e não uma realidade independente. Carregamos o espaço-tempo como tartarugas as suas carapaças. Portanto não há nenhuma matriz existindo por si própria na qual  ocorram acontecimentos independentes da vida.

Pensando no tempo pensamos imediatamente na sua natureza perversa, quando as pessoas envelhecem e morrem, pensamos ainda nas coisas que vão mudando.Mas esses acontecimentos, essas mudanças não são a mesma coisa que "tempo". Referindo à questão colocada por Hawking e Mlodinow, Robert Lanza responde que "a peça em falta somos nós, encontra-se em nós. A imortalidade não significa perpetual -linear- existência no tempo, reside simplesmente fora do tempo. A vida é uma viagem que transcende o nosso pensamento clássico".

Como diria Einstein, a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma teimosa e persistente ilusão.

10 comentários:

  1. Obrigado pelo seu texto... para um leigo em neste tipo de matérias. Fez me comprender que a noção de tempo e espaço são relativos. Um bem haja caro Sofista.

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  2. Parabéns pelo post!

    Cada vez mais, caminhamos para um entendimento fora do absolutismo da matéria!

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    1. Obrigado pelo comentário.
      Independentemente da justeza desta teoria, creio que à medida que tentamos perceber o espaço em que evoluímos, atribuindo-lhe regras, olvidamos que tudo depende bem mais da nossa percepção do que de realidades absolutas. Para além dos inúmeros exemplos que se poderia ponderar resultantes da física quântica, o simples equacionamento do espaço e do tempo mudaram radicalmente desde as investigações de Newton, quando se pensava que um segundo decorrido na terra era igual a um segundo decorrido em qualquer parte do universo, até Einstein demonstrar que de facto não era assim; aliás, a própria noção de "relatividade" que ele desenvolveu tem por base a percepção relativa de um acontecimento. Talvez, quando se fale de ciências, deveríamos doravante colocar o sufixo "neuro" à frente: teríamos assim a neurofisica, neuroquimica, neuromatemática.... Agora, sériamente, esta teoria tem pelo menos o mérito de colocar o cérebro humano como parte da equação cientifica, e consequentemente talvez nos permita a exploração de campos ainda por abordar.

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    2. A consciência aloja-se no cérebro, enquanto animal....

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  3. vc só esqueceu de incluir na teoria os 20 watts de energia que movem nossa consciência... nosso eu... e essa energia não morre... transcende além do tempo... o biocentrismo acima de tudo explica que a morte não existe.

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    1. Obrigado pela observação! Com efeito a morte, ou melhor, o "instante morte" só poderia existir se a mente a pudesse percepcionar. Desde logo como poderia um cérebro equacionar o instante em que occorre de facto a "morte"? Num " instante morte" teria de haver um antes e um depois o que seria perfeitamente paradoxal..

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  4. Obrigado. Gostaria de ler seus comentarios sobre ' O Universo como um Holograma ' Abraços

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  5. O Biocentrismo apresentado pelo Dr. Robert Lanza teve uma divulgação deturpada pela associação
    com mecânica quântica e reencarnação.
    É uma teoria extraordinária:
    “ Não sou eu que vivo, a vida é que vive em mim”.
    “As novas ciências da natureza humana podem levar a um humanismo fundamentado na biologia”. Steven Pinker.
    Propõe uma metanóia capaz de alterar nosso entendimento sobre ciência e religião.
    A teoria se sustenta em novo entendimento do que seja a vida (autopoiese) e na psicologia evolutiva.
    A vida é um processo de aquisição de conhecimento
    A proposta das membranas de conhecimento (o ser vivo tem restrições para adquirir conhecimento)
    Catapulta emocional - o neocórtex foi “i formatado” pelo cérebro intermediário (mamífero).
    Estes conceitos são apresentados no site http://biocentrismo.com.br/

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  6. A filosofia de Arthur Schopenhauer esclarece muito a respeito.

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  7. Acho que essa teoria explica os meus sonhos, que são sempre os mesmos desde criança. Eu em locais onde a realidade é tão incrivelmente perfeita quanto a que vivemos.

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