É costume São Valentim provocar uma veia literária conducente a cartas de amor, "ridículas", claro, "porque senão, não seriam cartas de amor". Proponho-vos uma carta "pós-Valentiniana".
O autor desta carta é um conhecido meu e muito amigo do Fernando Pessoa...
Ex.mª Senhora D. Ofélia Queirós:
Um abjecto e miserável individuo chamado Fernando Pessoa, meu particular e querido amigo, encarregou-me de comunicar a V. EX.ª - considerando que o estado mental dele o impede de comunicar qualquer cousa, mesmo a uma ervilha seca (exemplo de obediência e disciplina) - que V. Ex.ª está prohibida de:
(1) pesar menos gramas,
(2) comer pouco,
(3) não dormir nada
(4) ter febre,
(5) pensar no individuo em questão.
Pela minha parte, e como íntimo e sincero amigo que sou do meliante de cuja comunicação (com sacrifício) me encarrego, aconselho V. Ex.ª a pegar na imagem mental, que acaso tenha formado do individuo cuja citação está estragando este papel razoavelmente branco, e deitar essa imagem mental na pia, por ser materialmente impossível dar justo Destino á entidade fingidamente humana a quem ele competiria, se houvesse justiça no mundo.
Cumprimenta V Ex.ª
Alvaro de Campos
Eng. Naval
25-9-1929
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