terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Era uma vez...


    

Comecei por observá-la, perscrutei a sua arquitetura, e deixei-me seduzir pelo enfeite da sua coroa.

Atrevo-me a convidar o leitor a viajar comigo ao interior de uma romã.

                                                                        

Pintura de Celestino de Oliveira


Primeiro atravessemos a casca dura, que protege ciosamente o seu conteúdo da hostilidade exterior.

Cada grão cor rubi, contem em si uma semente, génese de toda uma romanzeira por nascer.  Embora individualmente frágeis, os grãos unem-se na diferença porquanto  as alvéolas brancas  os separam, agregam, e formam câmaras coerentes que reticulam, conferem rigidez e protegem o conjunto.

Permitam-me, por uns instantes, a ousadia de considerar cada um de nós, portugueses,  como um grão de romã, onde nos pressentimos protegidos pela rigidez da casca, e diferentes uns dos outros nos advertimos iguais. As estruturas arquitetónicas adjacentes, longe de nos separar, estabilizam uma vivência comum. À nossa fragilidade individual opõe-se a génese do que nos une, à semente de uma irmandade perpétuamente renascida.

Mas Portugal não é romã sadia; a casca tem fendas e antros de podridão que vão contagiando o seu interior.  Aqui há alguns grãos rubi, numerosos anémicos esbranquiçados, e a maioria ficaram castanhos, moribundos. As estruturas que eram supostas nos proteger pactuaram com as agressões exteriores.

Portugal, era uma vez uma Romã...

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