Caro Migue,
O correio que segue não pretende refletir momentos de duvidosa inspiração, estados etílicos avançados nem outras merdas estranhas.
Acontece que a minha "Bruxinha" fica trabalhando hoje até á meia noite, e como os dedos se me impacientam, aproveito para te escrever.
Esta manhã, ao abalar para o trabalho, pedi-lhe para me dizer uma palavra mágica. Pois não disse! Porque não tinha tempo, que me tinha dito ontem, em suma me ofereceu indiferença. Bem sei que todas as interpretações são unilaterais, limitam os olhos do espirito, contribuem para o afastamento. Porém esta noite imagino que ela me inventará uma palavra, falará das cores da sua memória, do tempo malva das coisas, da terra onde cresceu como uma arvore prisioneira que embora necessitando das suas raízes não renuncia, porque gente não é arvore. E eu a escutarei, sabendo como ninguém jamais leu um livro que eu tenha lido, nunca alguém a terá ouvido falar do modo que a oiço.
Então a palavra mágica recusada se converterá em alegria numa larga frase com imenso sorriso.
Esta noite meu amigo, esta noite a escutarei viver!
Driiiing, driiiing....
-" Bolas!...Despertador d'uma figa! Já?..."
Driiiiiiiiiiiing.....
- "Nem oiço, nem quero,. Não estou!...."
Ontem, ela me inventou palavras e luzes lhe cintilaram nos olhos. Depois, aproveitei para a olhar melhor enquanto dormia. Temos a noite para viajar...
Ah, como me custa, mas lá me levanto, tomamos um café, beijo, e abalo para o Alentejo.
Como não conheces Portugal, aqui segue uma pequena descrição do périplo:
O Alentejo fica separado do Algarve por uma pequena cordilheira montanhosa, o que, entre outras coisas, confere descontinuidade ao caminho. Passada a montanha vejo uma placa na estrada: "Mértola 48 Km".

Não vi nenhum pequeno príncipe, mas suspeito que aqui se escondem zorras e serpentes...

Falei da viajem repartindo-a em pedacinhos para a puder partilhar contigo, mas do mesmo modo que não posso descrever o deserto a partir de um grão de areia, este relato do Alentejo permanecerá infiel e incompleto.
Cinco horas.
É o regresso.
Pelas sete, em Quarteira, uma "Bruxinha" me espera...(?)...com a vassoura.
Un abraço
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