(Interpretando F. Pessoa)
A realidade confunde-se com a
necessidade espiritual; o poder espiritual confunde-se com as arbitraridades
humanas; os humanos tentam salvarse e confundem o principio e o fim.
Existimos?
Existe a bússula, o
pergaminho e a dor: “A dor de não ser nada, não querer ser nada, não poder ser
nada...”.
Existe a inconformidade de
passarmos desapercibidos. Existe o Mar onde dorme o Mostrengo e o Mar imenso
que recorta a geografía onde se pousa uma lanterna: “e, além disso, contenho em
mim todos os sonhos do mundo”.
Existe o V Imperio?
Existe a palavra, a porta que
esconde a palavra, os dentes que se escondem por detrás da palavra. Existe “a
voz de Deus no fundo dum poço” e existe “um lenço branco com o qual digo adeus
aos meus versos que partem para humanidade”
Existimos á medida que
construimos uma passagem que una o princípio e o fim, uma passagem que harmonize
as pretensões de eternidade com as arrogancias civilizacionais. Existimos
infinitamente com o tempo quando formos acompanhados pelo Imperio do
Renascimento Cultural.
Mas Portugal, hoje é nevoeiro...
O V império não pode ser uma espécie de sorte
grande destinada a salvar Portugal e a portugalidade de todos os marasmos e
maleitas sofridos pela má sorte e o fado que carregamos.
Essa sorte grande surgindo na
forma uma súbita dominação politica económica e militar tornando-nos num imenso
Portugal (segundo determinados profetas)...
A morte de Don Sebastião e a
louca esperança do ressurgimento do rei salvador traduzem o lirismo desesperado
de uma nação outrora poderosa cuja decandencia contraria as glórias tão
retradas por Camões e substancialmente por Fernando Pessoa.
Os estados e as nações se
encontram em interdependencia global. Frequentemente numa dependencia
humiliante que leva o humiliado a reclamar da falta de solidariedade
internacional. Alguns paises proclamando-se livres e autonomos consideram
insuficiente a ajuda de outras nações, donde resulta uma ambiguidade
inquietante. As antigas e claras fronteiras, imagem da soberania clássica não
podem ser um embaraço para a concertação em plataformas formais como a NATO, a UE,
a MERCOSUL a Asean, admitindo um novo poder politico residual, uma espécie de
soberania de serviço mais vinculada ao interesse comum, e menos exclusivista
O “nosso quinto império” será
o da cultura e da razão, porque a
história se decide á margem de circunstancialismos e intenções
politicas.
QUINTO / NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem
guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
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